Santo do rito Maronita (católico oriental), desde pequeno dedicado às coisas de Deus, com fama de santidade já em vida, tornou-se um dos maiores taumaturgos da Igreja pelo número de milagres que operou.

O rito Maronita do Líbano, tem a honra de ser o único das Igrejas Orientais que sempre ficou fiel à Igreja Católica Apostólica Romana, nunca tendo passado para o cisma.

Nesse rito, “A devoção à Mãe de Deus é, dizem, apanágio dos cristãos do Oriente; pode-se também afirmar que todo coração libanês, e em particular maronita, é um coração mariano. Todo ofício maronita deve conter hinos à Virgem Maria; e toda cerimônia religiosa deve incluir orações Àquela que foi a co-redentora da humanidade” (Dom Joseph Mahfouz, O.L.M., Os Santos Maronitas).

No seio desse rito da Santa Igreja nesse país, nasceu no dia 8 de maio de 1828 na aldeia de Bigah-Kafra – situada a 1600 metros de altitude, a mais alta do Líbano – , Youssef (José) Mackhlouf, que viria a ser o extraordinário Santo Charbel Makhlouf.

Quinto filho do casal Antun Zarour Makhlouf e Brígida Al-Chidiac, o futuro santo tinha dois irmãos e duas irmãs. Sua família era modesta, de fé sólida e piedade sincera, e vivia da agricultura. Assim, foi num ambiente rural conscienciosamente religioso, que cresceu Youssef. Aos três anos perdeu o pai e passou para a tutela do tio paterno, Tanios.

O menino frequentou a escola paroquial da aldeia, e desde pequeno demonstrou profundo sentimento religioso e propensão para a contemplação. Por isso, com o pensamento sempre no divino, enquanto trabalhava, Youssef rezava a Nossa Senhora para que o ajudasse a se tornar monge como seus dois tios maternos.

Aos 23 anos ele decidiu, apesar do afeto materno e da oposição do seu tio, que necessitava braços para o campo, fugir de casa, e apresentar-se no mosteiro de Nossa Senhora de Mayfouq, da Ordem Maronita, na região de Byblos. Nele começou o noviciado, escolhendo o nome religioso de “Charbel”, em honra do Santo do mesmo nome martirizado em Edessa no ano 107 de nossa era.

Em 1853, aos 25 anos de idade, Charbel pronunciou seus votos solenes de obediência, castidade e pobreza. Foi então enviado para o mosteiro de São Cipriano, em Batroun, onde funcionava na época o Seminário Teológico da Ordem Libanesa Maronita. Frei Charbel foi ordenado sacerdote em 23 de julho de 1859 em Bekerké, sede patriarcal maronita.

Como vigário de uma aldeia, logo começaram rumores de milagres operados por ele. Falava às serpentes, ordenava aos gafanhotos que não danificassem a plantação do mosteiro e, por ordem dos superiores, curou vários doentes desenganados pela medicina.

Um dos mais conhecidos milagres operados por ele no mosteiro foi o seguinte: um dia o Superior lhe deu um processo urgente para estudar, dizendo que tinha licença para fazê-lo até mais tarde à noite. Para isso, o Pe. Charbel foi então à cozinha para que abastecessem de azeite sua lamparina. O servente, querendo zombar do sisudo monge, em vez de azeite, pôs nela água.

São Charbel, absorto em seus profundos pensamentos, nada percebeu. Foi à cela, e acendeu naturalmente a lamparina sem se dar conta do milagre, e se pôs a rezar. O servente, que estava à espreita, viu perplexo a lamparina acesa. Correu então contar o acontecido ao padre superior, que foi imediatamente à cela de São Charbel, e constatou o fato maravilhoso. No dia seguinte o Geral da Ordem, avisado do milagre, imediatamente autorizou o Pe. Charbel a se mudar, como pedia, para o eremitério de São Pedro e São Paulo, pertencente ao próprio mosteiro, no qual ele passou os últimos anos de sua vida.

Contrariamente à moderna Teologia da Libertação e a nova missiologia, ele dizia: “A pobreza favorece a salvação. A frugalidade fortalece a alma. Quero viver nas privações, ignorando os prazeres e as doçuras deste mundo. Quero ser o servidor de Cristo e de meus irmãos”.

Um de seus piores tormentos na altitude em que estava o eremitério e com o rigoroso inverno libanês, era o frio. Diz um seu biógrafo que “O padre Charbel, mal vestido mas com vestes limpas, mal alimentado, mas com boa saúde, exposto sem defesa ao frio e ao calor, privado de qualquer conforto e qualquer ternura humana era, entretanto, o homem mais feliz do mundo, pois o Senhor tornara-se sua verdade, sua força, sua riqueza, sua alegria e a razão de sua vida” (Dom Joseph Mahfouz, O.L.M., Os Santos Maronitas, Bispado Maronita do Brasil, São Paulo).

Depois de 23 anos de vida eremítica, em que sua obediência foi quase legendária, sua castidade angélica transparecendo em todo seu ser, pobreza na qual imitou os maiores Santos da Igreja, e oração contínua, São Charbel entregou sua puríssima alma a Deus no dia 24 de dezembro, vigília de Natal do ano 1898.

Ao dar início ao seu processo de beatificação, Pio XII disse que: “o Pe. Charbel já gozava, em vida, sem o querer, da honra de o chamarem santo, pois a sua existência era verdadeiramente santificada por sacrifícios, jejuns e abstinências. Foi vida digna de ser chamada cristã e, portanto, santa. Agora, após a sua morte, ocorre este extraordinário sinal deixado por Deus: seu corpo transpira sangue há já 79 anos, sempre que se lhe toca, e todos os que, doentes, tocam com um pedaço de pano suas vestes constantemente úmidas de sangue, alcançam alívio em suas doenças, e não poucos até se vêem curados” (in Pe. José Leite, S.J., Santos de cada Dia).

Em 1952, quando foi feita a terceira exumação dos restos mortais de São Charbel, “o corpo foi retirado do caixão e sentado numa cadeira, diz testemunha ocular. Os braços e as pernas dobrados, curvados. A cabeça inclinada, balançava dum lado para outro. As vestes sacerdotais e as roupas interiores estavam encharcadas de sangue” (Dom Joseph Mahfouz).

 

Entre os mais surpreendentes acontecimentos sobrenaturais da vida de São Charbel está o caso de sua fotografia. Ele em vida não deixou nenhuma foto. Pois ocorreu que no dia 8 de maio de 1950, um peregrino tirou uma foto de alguns padres e visitantes que se encontravam em Annaya em frente ao mosteiro.

Ao revelar a chapa, constatou com grande surpresa que, além do grupo que fora fotografado, surgiu no centro da foto a figura meio transparente mas de feições bem definidas, de um monge de barbas brancas, na qual reconheceram o rosto bonito e sereno do padre Charbel Makhlof, o Santo de Annaya. Essa é a foto dele que corre o mundo.