A vida desse ilustre bispo da Palestina chegou até nós pela pena de seu discípulo Marcos.
Segundo este, Porfírio nasceu em 353 em Tessalônica, na Macedônia, que fora evangelizada pelo grande Apóstolo das Gentes. Seus pais eram pessoas de posse, e procuraram dar ao filho uma educação condigna ao seu nível social. Mas sobretudo criaram-no nos sentimentos de uma terna e sólida piedade.
Aos 25 anos Porfírio deixou os progenitores, pátria e parentes, e retirou-se para o deserto de Scete, no Egito, para levar vida de contemplação e penitência. Após cinco anos de vida austera, foi visitar os santos lugares de Jerusalém, e encerrou-se numa gruta não longe do Jordão. Lá, a umidade do local e a intempérie, arruinaram sua saúde. Pelo que, depois de outros cinco anos, ele fixou-se em Jerusalém.
Apesar da má saúde, Porfírio visitava frequentemente os locais santificados pela presença de Nosso Senhor na Cidade de David. Foi então que ele conheceu um jovem piedoso de nome Marcos – que seria mais tarde diácono de sua igreja e seu biógrafo –, que se tornou seu seguidor.
Ora, uma coisa que preocupava Porfírio, era o fato de não ter distribuído aos pobres os grandes haveres herdado dos pais. Pediu então ao discípulo que fosse a Tessalônica, vendesse todos seus bens, distribuindo entre os mosteiros pobres e às pessoas necessitadas todo o produto da venda.
Depois de ter feito religiosamente o que Porfírio lhe pediu, Marcos, voltando a Jerusalém, ficou agradavelmente surpreso ao ver o mestre inteiramente livre dos seus achaques, e gozando de boa saúde. O santo então lhe explicou: “Já há alguns dias que, sentindo-me extraordinariamente agravado nas minhas dores, me fui arrastando com muito trabalho até o Monte Calvário, para ter a consolação de expirar no mesmo local onde expirou o meu divino Salvador. Ali, quase desmaiado, tive uma espécie de êxtase, onde se me representou Jesus Cristo cravado na cruz, que mandava ao bom ladrão que me levantasse. Este assim fez, dizendo-me que fosse dar graças ao meu doce Redentor, porque já estava são. Corri a lançar-me aos pés de Jesus Cristo, que já tinha descido da Cruz, e que me apresentava esta, ordenando-me que a guardasse. Desapareceu a visão, e eu achei-me restituído à minha antiga robustez”.
Quando Porfírio tinha por volta de 40 anos, o Patriarca de Jerusalém o ordenou sacerdote, e o encarregou da relíquia da Verdadeira Cruz. Pouco depois, vagando em 395 o bispado de Gaza, que era um reduto de pagãos, o santo foi escolhido para preenchê-la.
Porfírio procurava conquistar os gentios pela humildade e paciência. Sucedeu então que uma grande estiagem caiu sobre o país, o que levou os pagãos a recorrerem a seus deuses, oferecendo-lhes sacrifícios. Isso evidentemente, foi em vão. Então o bispo organizou uma procissão de sua igreja até uma ermida fora da cidade, implorando o auxílio do Deus verdadeiro para que acabasse a estiagem. Enquanto os cristãos caminhavam rezando e cantando, começou a cair uma chuva abundante que pôs fim à seca. O que levou muitos pagãos a se converterem.
Nem todos. Muitos deles continuaram a maltratar os cristãos, e a se mostrar muito hostis ao bispo. A situação foi ficando intolerável, o que levou São Porfírio a, por intermédio de São João Crisóstomo, apelar ao Imperador pedindo proteção, e a destruição dos templos pagãos da cidade. Como o monarca era cristão, atendeu ao pedido do santo por um decreto imperial, que pôs fim à confusão.
Finalmente, exausto pelas suas penitências, rendido ao peso dos trabalhos, e consumido pelo ardor do seu zelo, São Porfírio placidamente entregou sua alma ao seu Criador, no ano 420.
Dele diz o Martirológio Romano neste dia: “Em Gaza, na Palestina, São Porfírio, bispo que, sob o imperador Arcádio, demoliu o ídolo de Marnas e seu templo. Depois de muito sofrer por esse motivo, descansou na paz do Senhor”.