A festa da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é a mais importante do ciclo litúrgico, ainda mais que a do Natal pois, como diz São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Cor 15, 14).
A ressurreição de Cristo Jesus é o seu mais estupendo milagre, o fato mais glorioso de sua existência humana, a prova mais luminosa de sua divindade. É a base ou pedra angular de nossa fé. A ressurreição tem seu coroamento na ascensão, e alcançará seu triunfo completo no Juízo Universal.
A Páscoa, celebrando a vitória de Cristo e de seus fiéis sobre a morte e o pecado, representa a passagem das almas do estado de culpa à condição de filhos amados de Deus. Está intimamente coligada com o santo Batismo, o qual não só é figura dessa vitória e passagem, mas a efetua, conferindo a vida espiritual da graça.
Por isso o tempo da Páscoa deve lembrar-nos as exigências morais da vida nova adquirida no Batismo , que se assentam no princípio enunciado por São Paulo: ressuscitado com Cristo, o cristão levanta as suas aspirações para o Céu, para desprender-se das satisfações terrenas, e saborear as coisas do alto.
Caberá ao Espírito Santo acabar de formar no batizado “o homem novo” que, pela santidade de vida, será testemunha de Cristo ressuscitado.
Santo Aniceto Papa, mártir
Segundo o Liber Pontificalis, Santo Aniceto nasceu na Síria em data desconhecida, e foi Papa depois de São Pio, provavelmente entre os anos 157 e 168. Durante seu pontificado, numerosos orientais ilustres como São Justino, Taciano e Hegesipo – o primeiro historiador cristão cujos escritos são de grande valor porque viveu muito perto do tempo dos Apóstolos – foram a Roma para beber em sua fonte, a pureza da doutrina apostólica, como diz esse historiador.
Outro oriental ilustre que esteve com Santo Aniceto foi São Policarpo, bispo de Esmirna, e discípulo de São João Evangelista. Apesar da idade avançada, ele foi a Roma tratar com o Papa pontos da controvérsia a respeito da celebração da Páscoa. Esse santo defendia, apoiado na prática do Oriente e no magistério de São João, que essa festa devia ser celebrada no dia 14 da lua do mês de março, independente do dia da semana em que caísse. Santo Aniceto, pelo contrário, seguindo a tradição de Roma e da África, e alegando o exemplo de São Pedro, defendia que ela deveria ser comemorada no domingo a seguir à lua cheia da primavera, precedida na sexta-feira pela comemoração da morte de Nosso Senhor.
Houve muita discussão, mas nada foi resolvido. De acordo com Eusébio: “Policarpo não conseguiu persuadir o Papa, nem o Papa persuadir Policarpo. A controvérsia não teve um fim, mas os laços da caridade não foram quebrados”. Santo Aniceto permitiu a São Policarpo continuar a celebrar a Páscoa no dia em que estava acostumado a fazer em Esmirna. Mas a opinião do Sumo Pontífice prevaleceu depois na Igreja.
Hegesipo, pondo ênfase na bem clara dignidade e autoridade dos Romanos Pontífices, afirma que, a par dos ilustres visitantes que iam a Roma nesse período, também alguns hereges foram à Cidade Eterna, como Marcião, Marcelino, Valentino e Cordo, perturbando a Igreja por seu maniqueísmo. O escritor escreveu um livro em defesa do Papa no qual provava que este seguia a correta doutrina cristã, diferente da dos integrantes das seitas heréticas.
Santo Irineu narra o trabalho de São Policarpo com estas ovelhas tresmalhadas enquanto ele esteve em Roma, obtendo que muitos deles voltassem ao redil do Bom Pastor, graças ao seu zelo e prudência. Ele relata o encontro do santo com o herege Marcião, que lhe perguntou: “Não me conheces?”. “Sim, disse Policarpo, conheço-vos como o primogênito de Satanás”.
O Liber Pontificalis atribui a Santo Aniceto um decreto proibindo aos clérigos o uso do cabelo comprido.
O Martirológio Romano afirma que o santo pontífice sofreu o martírio na perseguição de Marco Aurélio Antonino e Lúcio Vero. Isto ter-se-ia dado então entre os anos 161 e 166, em dia incerto. Entretanto, embora ele tenha morrido num período de perseguição aos cristãos, a Igreja não cita a sua morte como sendo a de um mártir. Contudo, pelo sofrimento que teve ao enfrentar durante todo o seu governo os inimigos do cristianismo e da Igreja de Roma, se explica o porquê se reverencia seu nome como o de um mártir.
Santo Aniceto foi enterrado no Vaticano, mas seus restos mortais foram depois trasladados para a catacumba de São Calisto, na cripta papal.