A liturgia dos três últimos dias da Semana Santa assume um caráter emocionante. Por meio dos ofícios litúrgicos que são os mais belos do ano, a Igreja recorda os feitos que assinalaram os últimos dias do Salvador, e convida-nos a celebrar com ela o augusto mistério de nossa Redenção.
Este dia é consagrado à instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Neste dia também o bispo procede à benção dos santos óleos, pelo que mais evidente se torna que os Sacramentos têm a sua própria origem em Cristo, representado pelo bispo, e que sua fecundidade é toda haurida no mistério pascal. Tem lugar também a comovente cerimônia do lava-pés, rememorando o gesto de caridade com que Jesus assinalou o “mandamento novo” do amor fraterno.
São Hugo de Grenoble, Bispo e Confessor
Deste santo diz o Martirológio Romano Monástico neste dia: “No ano do Senhor de 1132, São Hugo, bispo de Grenoble, que aplicou a reforma da Igreja iniciada por Gregório VII, e beneficiou o renascimento do monaquismo ao estabelecer a Ordem beneditina em Chalais, e conduzindo São Bruno e seus companheiros ao deserto da Grande Cartuxa”.
Hugo nasceu na França no ano de 1053, numa família condal. Pouco sabemos dela, a não ser que sua mãe quis se ocupou pessoalmente da educação dos filhos, sobretudo religiosa, introduzindo-os nos caminhos da oração, da caridade e da penitência.
Quando adolescente, Hugo estudou em Valence e Reims, onde teve como professor São Bruno, que mais tarde seria o fundador da Cartuxa.
Ignoramos a data de sua ordenação sacerdotal, mas sabemos que foi nomeado cônego da catedral de Valence. Acompanhou então seu bispo diocesano ao Concílio de Avignon em 1080 e, nesse mesmo ano, tendo somente 27 anos, foi nomeado bispo de Grenoble pelo papa São Gregório VII, grande conhecedor de homens.
A diocese de Grenoble, como muitas outras da época, estava num estado de decadência incrível. Pois era comum haver sacerdotes que não viviam o celibato eclesiástico, que compravam cargos eclesiásticos (simonia), e leigos que se apoderavam dos bens da Igreja. Para enfrentar todos esses males, Santo Hugo viu que o remédio era introduzir na diocese a reforma promovida por São Gregório VII para solucionar os problemas da Igreja.
Contudo essa situação lhe era muito penosa, de modo que, apenas dois anos depois de se tornar bispo, demitiu-se de sua diocese para entrar como monge numa comunidade beneditina. Mas o enérgico papa santo, que via com bons olhos o trabalho empreendido pelo santo na reforma dos costumes, o fez reassumir as funções episcopais.
Foi então que apareceu em Grenoble seu antigo professor, São Bruno, com seis companheiros. Depois de um período de vida monástica em Molesme, Bruno retirou-se para buscar um local mais solitário, onde pudesse com seus discípulos, unir a vida cenobítica (em comum), à eremítica (de isolamento), entregues à oração e ao trabalho.
O bispo ofereceu então a seu antigo mestre um terreno em sua diocese, junto à uma montanha chamada Cartuxa (Chartreuse, em francês), onde São Bruno pôs os fundamentos de sua obra.
Santo Hugo, que ficou em sua diocese 52 anos, serviu com o mesmo zelo os sucessores de São Gregório VII, e estimulou vivamente a obra dos monges de Cluny, então no auge de sua vocação, e que tiveram um papel preponderante no apogeu da Idade Média.
No reinado do papa Honório, o santo pediu-lhe mais uma vez que o dispensasse do episcopado, alegando a avançada idade e doenças. O papa, que prezava muito o zelo do santo em sua diocese, lhe respondeu que conhecia bem sua idade e moléstias. Mas que ainda o preferia assim, do que a outro bispo mais jovem e robusto, sem a mesma virtude. Desse modo Santo Hugo teve que continuar em sua diocese durante todo o pontificado de Honório, que faleceu no dia 14 de fevereiro de 1130, e viu subir ao trono pontifício seu sucessor, Inocêncio II, falecendo aos oitenta anos, no dia 1º. de abril de 1132.
Tal era a fama de santidade de Santo Hugo, que Inocêncio II o declarou santo apenas dois anos depois de sua morte.