Hoje, é o dia do Santo mais popular do mundo, Santo Antônio. É também aniversário da segunda Aparição de Nossa Senhora, em Fátima.
Nesse dia, em 1917, a Mãe de Deus mais uma vez recomendou aos três pastorinhos que rezassem o terço todos os dias. Quando Lúcia lhe pediu que os levasse para o Céu, Ela respondeu: “Sim, à Jacinta e ao Francisco, levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação, e serão queridas de Deus estas almas como flores postas por mim a adornar o seu trono”.
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“Alegra-te, feliz Lusitânia! Salta de júbilo, Pádua ditosa! Pois gerastes para a terra e para o céu um varão que bem pode comparar-se com um astro rutilante, já que brilhando, não só pela santidade da vida e gloriosa fama de milagres, mas também pelo esplendor que por todas as partes derrama a sua celestial doutrina”. Esse foi o esplêndido elogio que fez desse santo o Papa Pio XII.
“Doutor da Igreja”, “Martelo dos Hereges”, “Doutor Evangélico”, “Arca do Testamento”, “Santo de todo o mundo” – são alguns dos títulos com que os Soberanos Pontífices honraram aquele cuja vida foi, no dizer de um de seus biógrafos, um milagre contínuo.
Natural de Lisboa onde nasceu em data incerta, em 1191 ou 1195, filho dos nobres Martinho de Bulhões, descendente do famoso Godofredo de Bulhões, e Teresa Taveira, o futuro santo recebeu no batismo o nome de Fernando. De boa índole, inclinado à piedade e às coisas santas, sua formação espiritual e intelectual foi confiada por seu pai, oficial no exército de D. Afonso, aos cônegos da Catedral de Lisboa.
Aos 19 anos Fernando entrou no mosteiro de São Vicente de Fora, dos Clérigos Regulares de Santo Agostinho, nos arredores da capital portuguesa.
Ali permaneceu por dois anos, findos os quais, por ser muito procurado por parentes e amigos, pediu aos superiores que o transferissem para o mosteiro Santa Cruz de Coimbra, casa-mãe do Instituto. Lá foi ordenado sacerdote em 1220.
Um dia desse ano, dois franciscanos foram ao seu mosteiro pedir esmola. Essa Ordem, fundada havia pouco por Francisco de Assis, que ainda vivia, estava na aurora primaveril de sua vocação. Frei Fernando perguntou-lhes se, passando para sua Ordem, o enviariam à terra dos mouros para lá sofrer o martírio. Eles deram resposta afirmativa.
No dia seguinte, depois de obter a duras penas autorização de seu Superior, Frei Fernando mudou-se para o ermitério franciscano, onde se tornou filho do Poverello de Assis. Mudou então seu nome pelo do onomástico do ermitério, Santo Antão ou Antônio do Deserto, que ele imortalizaria.
Conforme o combinado, Frei Antônio foi enviado no fim desse mesmo ano à África. Entretanto, não estava nos planos da Providência que ele ilustrasse a Igreja como mártir, mas com suas pregações e santa vida. Assim, chegando ao continente africano, foi atacado de terrível doença que o reteve no leito por longo período. Os superiores decidiram que, para curar-se, Frei Antônio deveria voltar para Portugal.
A mão da Providência, no entanto, desejava-o em outro campo de luta. O navio em que estava o convalescente, levado pela tempestade, foi parar nas costas da Itália, onde o Santo encontrou abrigo em Messina, na Sicília. Lá soube que o seráfico Francisco havia convocado um Capítulo da Ordem em Assis, para maio de 1221. O Provincial da România resolveu levar Antônio consigo. Seria para ele uma oportunidade de poder, enfim, conhecer o pai e fundador dos Franciscanos, e contemplar sua angélica virtude.
Não temos notícia do que se passou nesse Capítulo, e se São Francisco reparou, entre os muitos religiosos presentes, naquele jovem franciscano, modesto e humilde. Seja como for, depois dele Frei Antônio obteve licença do seu Provincial para ir para o ermitério do Monte Paulo, para entregar-se ao isolamento e à contemplação.
Contudo, como Deus Nosso Senhor velava sobre ele, chegou o tempo em que aquela luz deveria brilhar para o bem do mundo inteiro. Ocorreu então que Frei Antônio foi enviado a Forli com alguns franciscanos e dominicanos que deveriam receber as ordens sacras para ministrar-lhes seus ofícios sacerdotais. O Padre guardião do convento em que se hospedavam pediu então que algum dos religiosos presentes dissesse algo para a glória de Deus e edificação dos demais. Um a um, eles foram todos se escusando, por não estarem preparados. Restava apenas nosso santo. Sem muita convicção, à falta de outro, o Superior mandou-lhe então que falasse sobre o que o Espirito Santo lhe pusesse nos lábios. Frei Antônio, compelido pela obediência, começou então a falar, primeiro lenta e timidamente, mas logo, tomado de fervor, começou a explicar os mais ocultos sentidos da Sagrada Escritura, com tão profunda erudição e sublime doutrina, que surpreendeu a todos.
Entusiasmado, o Guardião comunicou aquele sucesso ao Provincial, que transmitiu a notícia a Frei Francisco. O Poverello mandou então que Frei Antônio estudasse teologia escolástica para dedicar-se à pregação. Pouco depois, em vista de seus progressos, Francisco ordenou-lhe que trabalhasse na salvação das almas. Era o ano 1222, e Frei Antônio contava apenas 30 ou 31 anos de idade.
Um seu biógrafo fala do efeito da pregação do santo: “Quando ele fulminava os vícios e contra as heresias – das quais o mundo estava então extremamente infectado – era como uma torrente de fogo que revira tudo e à qual ninguém pode resistir. […] Freqüentemente, se bem que falasse uma só língua, era entendido por pessoas de toda espécie de países”. Daí seu sucesso extraordinário, tanto na Itália quanto na França.
As multidões acorriam, e até os comerciantes fechavam suas lojas para irem ouvi-lo. A cidade e toda a redondeza literalmente paravam. Sendo pequenas as igrejas para tanta gente – às vezes chegava a juntar-se até 30 mil pessoas num só sermão – ele falava nas praças públicas. Quando terminava, era necessário que alguns homens valentes e robustos o levantassem e protegessem das pessoas que vinham beijar-lhe a mão e tentar pegar algo de seu como relíquia.
Um dos milagres mais conhecidos de Santo Antônio é a sua pregação aos peixes. Em Rimini, contrariamente ao que normalmente sucedia, durante seu sermão o povo permanecia indiferente, e não havia meio de comovê-lo. Abandonando então seus ouvintes, o santo dirigiu-se ao mar, e começou a pregar aos peixes. Milhares deles de todos os tipos e tamanhos puseram a cabeça fora da água para ouvir o pregador. Como ele tinha sido seguido pela cidade toda curiosa em ver o que sucederia, esta foi testemunha do estupendo milagre. Diz-se que algo semelhante ocorreu também com os pássaros.
Santo Antônio foi cognominado “o Martelo dos Hereges” porque dificilmente a heresia teve inimigo mais formidável. Sua mais antiga biografia, conhecida pelo nome de Assídua, relata: “Dia e noite tinha discussões com os hereges; expunha-lhes com grande clareza o dogma católico; refutava vitoriosamente os preceitos deles, revelando em tudo ciência admirável e força suave de persuasão que penetrava na alma dos seus contrários”.
Desde a mais tenra infância Antônio foi devoto de Nossa Senhora, e Ela várias vezes o socorreu. Um dia, por exemplo, em que o demônio não podia mais suportar o bem que o santo fazia, agarrou-o pelo pescoço tão violentamente, que o enforcava. Antônio mal pôde balbuciar as palavras da antífona a Nossa Senhora, “Ó Gloriosa Domina”. No mesmo instante o demônio fugiu apavorado. Recomposto, o religioso viu a seu lado a Rainha do Céu resplandecente de glória. É tradição que várias vezes a Mãe de Deus lhe entregou o divino Infante aos seus carinhos, como mostra a iconografia a seu respeito.
No ano de 1231, Frei Antônio, sentindo piorar a hidropisia maligna que o perseguia havia tempos, percebeu que sua hora chegara, e quis morrer em Pádua, sua cidade de adoção. Quando o povo paduano ouviu dizer que ele estava chegando, acorreu em tal quantidade, que os frades que o acompanhavam, para livrá-lo do assédio, resolveram levá-lo para a casa do capelão das freiras clarissas, fora da cidade, onde ele faleceu com apenas 40 anos de idade.
Tantos foram os milagres operados pelo Santo em seu túmulo, que levaram o Papa Gregório IX a canonizá-lo apenas um ano depois de sua morte.