João de Fidenza nasceu na pequena cidade de Bagnorea, na Toscana, no ano de 1221. Seus pais eram nobres, ricos e autênticos católicos. Quando ele tinha 4 anos, foi acometido por grave doença. Sua mãe recorreu aos méritos de Francisco de Assis que, embora vivo, já era considerado por muitos como santo. E prometeu que, se por sua intercessão o menino sarasse, ela o consagraria à sua Ordem.
O menino sarou. Alguns meses depois, quando o Poverello de Assis visitava Bagnorea, foi-lhe apresentado o menino milagrosamente salvo por sua intercessão. Francisco pôs as mãos sobre sua cabeça e, tomado pelo espírito divino, anteviu toda sua futura grandeza, exclamando: “O buona ventura!”. Desta efusiva exclamação ficou o menino com o nome de Boaventura, que tanta glória deu à Igreja.
Predestinado desde o berço para ser grande defensor da Igreja e sustentáculo da Ordem franciscana, o menino foi conatural com a virtude e com os estudos: seus progressos foram tão rápidos, que seus mestres ficavam pasmos; sua inteligência tudo abarcava com uma facilidade extraordinária, e ele pôde, antes de se consagrar ao Senhor na vida religiosa, percorrer o círculo de conhecimentos ensinados nessa época, aprofundá-los e se tornar assim capaz de exercer sem atraso os cargos que lhe quisessem confiar.
Aos 17 anos quis cumprir o voto materno, e pediu admissão entre os franciscanos. Pouco depois de sua profissão religiosa, vendo seus superiores o talento extraordinário que ele tinha para os estudos, enviaram-no para continuá-los na Universidade de Paris, a mais renomada do mundo católico. Lá teve como professor o também franciscano Alexandre de Hales, que brilhava na Cidade Luz com o título de Doutor Irrefutável. O venerando mestre o recebeu como um dom do Céu. Dele costumava dizer: “Este é um verdadeiro israelita em quem Adão parece não ter pecado”.
Durante três anos Frei Boaventura estudou sob a direção desse grande mestre, e depois o substituiu no ensino. Seus momentos livres dedicava-os ao cuidado dos doentes
Como diz um hagiógrafo, “Boaventura passou sem interrupção e com o mais prodigioso resultado, das escabrosidades da filosofia às excelsitudes e profundidades da teologia, rainha das ciências. Muito pronto se viu apto para resolver com exata precisão às mais intrincadas dificuldades, pelo que ressoaram em sua honra os aplausos e louvores de toda a Universidade … As luzes de seu estudo serviam pra fazer-lhe avançar com maior rapidez e segurança pelas sendas da virtude e para acercá-lo mais a Deus” (Edelvives, El Santo de cada Día).
Por aquele tempo chegou também à Paris, para terminar seus estudos, o dominicano Tomás de Aquino, e os dois santos se uniram na mais íntima e santa amizade.
Tendo recebido a ordenação sacerdotal por obediência, Boaventura tremia de santo temor e respeito toda vez que celebrava o Santo Sacrifício. E dizia: “Como há hoje infelizes padres, descuidados de sua salvação, que comem o corpo de Jesus Cristo no altar como a carne dos mais vis animais; que, cobertos e imundos de abominações, não rugem de tocar com suas mãos infames, de beijar com seus lábios impuros o Filho de Deus, o Filho único da Virgem Maria! Sim, ouso dizer que se Deus tem por agradável o sacrifício de tais homens, Ele é mentiroso, e se faz companheiro dos pecadores”.
Certo dia Frei Tomás foi visitá-lo, e perguntou em que livros apoiava sua sublime doutrina. Frei Boaventura mostrou-lhe alguns mas, apontando para o crucifixo sobre sua mesa, disse: “Esta é a fonte de minha doutrina; destas sagradas chagas jorram minhas luzes”.
Como Tomás de Aquino ensinava uma doutrina aristotélica, o que parecia novidade, o líder dos alunos descontentes, Guilherme do Santo Amor, saiu em guerra contra essas “inovações” e contra os professores religiosos. Os franciscanos e dominicanos encarregaram os dois, Tomás de Aquino e Boaventura, de sua defesa. O segundo consagrou um curso para refutar os erros de Guilherme, que publicou sob o título “De perfectione evangélica”, uma apologia apaixonante do estado de perfeição, que desmascarou a hipocrisia dos difamadores, e levou à sua condenação.
No Capítulo Geral dos franciscanos reunido em fevereiro de 1257 no convento de Araceli em Roma o geral, João de Parma demitiu-se, sendo Frei Boaventura eleito por unanimidade para substituí-lo. Durante 18 anos ele levou esse fardo com extrema prudência e sabedoria, procurando pela força do exemplo, fortalecer os bons no seu primitivo fervor, e com doçura, misericórdia e força, fazer os tíbios e relaxados a reafervorar-se e a observar em toda sua integridade as regras da Ordem.
Naquele capítulo Frei Boaventura recebeu a incumbência de escrever a biografia de São Francisco de Assis. Para isso foi ao Monte Alverne, onde o Poverello havia recebido os estigmas, para preparar-se pela oração e recolhimento para a tarefa.
Teobaldo Visconti, eleito papa com o nome de Gregório X, o nomeou depois bispo de Albano e cardeal da Santa Igreja.
Finalmente em 1274, Gregório X convocou um concílio ecumênico na cidade de Lião, na França, para estudar uma forma de união entre as igrejas grega e latina, e reformar os costumes. Os dois grandes teólogos, Tomás de Aquino e Boaventura foram especialmente convocados pelo Papa para dele participarem. O primeiro faleceu à caminho. O segundo, depois de ter brilhado nas primeiras seções, foi acometido por súbita doença que o levou ao túmulo no dia 15 de julho desse mesmo ano, aos 53 anos de idade.