Este jovial santo italiano, fundador dos padres do Oratório, pelo seu caráter amável foi chamado o “santo da alegria” ou “o jogral de Deus”. Assim, ele pode ser nosso poderoso intercessor quando estivermos acabrunhados pelo peso da vida ou nos períodos de tristeza ou depressão, infelizmente tão freqüentes nos difíceis dias em que vivemos.
Segundo filho de Francisco Neri e Lucrecia de Mosciano, Filippo Romolo Neri nasceu no ano de 1515 na bela cidade de Florença, sendo batizado na igreja de São Pedro Gattolino no dia seguinte. Francisco, seu pai, era modesto tabelião, mas sua família havia sido nobilitada no serviço do Estado por ter exercido durante gerações funções de relevo na cidade.
Felipe tinha apenas 5 anos quando perdeu a mãe, mas encontrou na madrasta uma digna sucessora que o amou como filho. O menino era tão afetivo, jovial e terno, que logo passou a ser conhecido como “Pippo Buono”, ou “o bom Felipinho”. Essa disposição do coração e amabilidade para com todos, permeadas depois pela graça divina, tornar-se-iam o grande segredo de suas conquistas apostólicas.
Tendo estudado humanidades sob a direção dos melhores professores dessa geração de eruditos, aos 18 anos Pippo foi enviado à casa de seu “tio” (primo-irmão do pai) em São Germano, aos pés do Monte Cassino, para iniciar-se na carreira de comerciante. Esse parente tinha planos de o tornar seu herdeiro. Mas, em vez de pensar nos débitos e créditos, as cogitações do jovem voavam para as coisas celestes, de modo que logo se viu que ele não tinha nenhum senso comercial, mas do divino.
Em 1534, aos 20 anos incompletos Felipe, sem dizer nada aos parentes, partiu para Roma, sem ter um tostão no bolso. Lá, para ganhar a vida, tornou-se preceptor de dois filhos de um seu conterrâneo, Galeotto del Caccia. Provavelmente foi então que ele escreveu a maior parte de suas poesias, compostas em latim e italiano.
Dois anos depois resolveu recomeçar seus estudos de filosofia com os agostinianos.
Entretanto Felipe viveu 17 anos como leigo, sem pensar em ordenar-se sacerdote. Contudo, durante esse período, entregou-se ativamente ao apostolado. Ele ia pelas ruas da cidade, entrava em lojas, bancos, mercados e praças públicas, pregando com aquela doçura que conquistava os corações, exortando a todos a servirem efetivamente ao nosso bom Pai dos Céus. Aos poucos juntaram-se a ele vários discípulos.
Frequentando a igreja de Santa Maria da Estrada, dos primeiros jesuítas, conheceu Santo Inácio de Loyola, e passou a enviar-lhe muitos recrutas escolhidos entre os que o seguiam. É curioso que, no entanto, ele não se fez jesuíta. Como a maioria dos seus discípulos permaneceram com ele no mundo, formaram um núcleo que depois se tornou na Irmandade do Pequeno Oratório.
Foi no ano de 1544 que, segundo o Santo, deu-se a sua “conversão”, ou entrega mais decidida ao serviço de Deus. Rezava ele na catacumba de São Sebastião quando, depois de uma aparição que teve de São João Batista, segundo seu biógrafo Bacci, “golpeou-o um ímpeto de ardor, uma irrupção do Espírito Santo, que o fez cair por terra e marcar seu corpo”. Sobre o sucedido, afirmou depois o médico do santo que ele “dizia-me que, aos 30 anos, estava com grande fervor, e pedia ao Espírito Santo que lhe desse um cúmulo de espírito; e me disse que lhe fora dado tanto, que o lançou por terra. Ao levantar-se, sentiu elevado o peito e uma contusão por dentro, a qual durou enquanto viveu”. Pois o coração do santo dilatou-se sob esse impulso desse amor e, para que tivesse suficiente espaço para se mover, duas costelas se quebraram e encurvaram em arco. Desde então, até sua morte, seu coração palpitava violentamente toda vez que ele fazia algo espiritual.
Como são imperscrutáveis os caminhos da Providência! Nem com essa grande graça ele se determinou a fazer-se sacerdote!
Mais tarde, em 1547, São Felipe começou a frequentar a igreja da Arquiconfraria de São Jerônimo da Caridade, onde um grupo de sacerdotes seculares levava uma vida exemplar, constituindo uma pequena comunidade. Juntou-se a eles, embora continuasse leigo. Cada um vivia de suas próprias rendas, ao serviço do templo e da confraria, tendo mesa em comum, mas não se obrigavam a nenhum voto.
No ano seguinte, juntamente com seu confessor Pe. Persiano Rosa, Felipe fundou a Confraria da Santíssima Trindade, com uma finalidade inteiramente confessional. Aí o santo introduziu, pela primeira vez em Roma, a exposição do Santíssimo Sacramento na devoção das Quarenta Horas.
São Felipe foi ordenado sacerdote por conselho de seu diretor espiritual, só em 1551, dedicando-se depois ao exercício da confissão, no qual consumiu o resto de seus dias. Muitos dos sacerdotes seus penitentes, levados pelo desejo de recolher a sua doutrina, passaram a ir visitá-lo diariamente. Pouco a pouco se tornaram tão numerosos, que foi preciso reuni-los numa igreja, e foi necessário distribuí-los em grupos, à frente dos quais São Felipe punha um dos discípulos mais capazes. Assim nasceu o Instituto do Oratório, sem outros votos que os compromissos do batismo e da ordenação sacerdotal, sem outros vínculos que o da caridade.
Muita coisa haveria para se dizer da rica biografia desse santo, que o espaço não nos permite.
Assim, concluímos dizendo que São Felipe Neri entregou sua alma a Deus no dia 26 de maio de 1595, sendo beatificado em 1615 pelo papa Paulo V, e canonizado por Gregório XV em 1622.
Dele diz o Martirológio Romano Monástico neste dia: “Em Roma, no ano de 1595, São Felipe Neri, sacerdote. Seu comportamento paradoxal e alegre, permitia-lhe fazer refletir aqueles que ele abordava, e revelar a sorridente liberdade dos filhos de Deus aos jovens, que gostavam de se reunir perto dele em suas orações, ou “oratórios”, para rezar e cantar. A congregação do Oratório continuou, depois dele, esta forma de apostolado”.