Este Santo, é mais freqüentemente chamado João do Monte Alverne. Com efeito, ele teve uma longa permanência naquela montanha sagrada da Toscana na qual São Francisco recebeu os estigmas. São João é um dos frutos da “primavera da Fé”, como foi chamada muito propriamente a Idade Média, pródiga em santos. Ele nasceu em Fermo, nas Marcas italianas, em 1259.
Dotado de uma devoção muito precoce pelo mistério da Paixão, desde pequeno aprendeu a se mortificar. Aos dez anos foi recebido entre os Cônegos de São Pedro, em sua cidade natal. Três anos depois, desejoso de levar vida mais austera, entrou na Ordem dos Frades Menores. Sob a direção do célebre bem-aventurado Frei Tiago de Fallerone, tão citado nos “Fioretti” de São Francisco de Assis, progrediu rapidamente na perfeição.
Pouco depois de sua profissão religiosa, João foi enviado pelo Ministro Geral ao Monte Alverne, santificado pela presença do Poverello, e ali passou muitos anos em solidão, penitência e contemplação, sendo favorecido por êxtases e visões celestes.
“A origem do santuário [nesse Monte] remonta a 1213, quando São Francisco encontrou um nobre local, Orlando di Chiusi della Verna, que lhe ofereceu o monte e a área adjacente para ser um local de retiro e de oração. Ali Francisco voltou diversas vezes, tornando-se o monte um dos seus locais prediletos para meditação.
Em 1218, foram ali erguidas algumas capelas, e uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora dos Anjos. Por ter o Poverello de Assis recebido lá milagrosamente os estigmas, em 1260 o Papa Alexandre IV tomou o local sob sua proteção, ampliou a igreja de Santa Maria dos Anjos, e a consagrou em presença de São Boaventura, então Superior dos franciscanos, e de numeroso clero. Posteriormente o conde Simone di Battifolle ergueu no local a Capela dos Estigmas.
Durante o rigoroso inverno do Alverne, Frei João não tinha senão um hábito grosseiro, polainas, e uma capa. Como seu eremitério ficava longe do prédio principal, algumas vezes ele chegava ao coro pálido como um boneco de neve. Além disso, em seu eremitério ele não tinha cama, mas deitava-se diretamente no chão duro e frio. Conta-se que o próprio São Francisco apareceu-lhe para moderar suas mortificações e que, por vezes, Nossa Senhora e os anjos lhe faziam companhia em seu eremitério.
Tais austeridades entretanto, não o impediam de pregar ao povo, primeiro, o da região, e nos seus últimos anos em Florença, Pisa, Siena, Arezzo, Perugia e muitas outras cidades do norte e centro da Itália, fazendo maravilhas por toda parte. Seus contemporâneos relatam que ele gozava do dom da ciência infusa, e que prelados e príncipes ficavam espantados com sua sabedoria.
Pois, embora Frei João não tivesse quase estudado, dominava a Sagrada Escritura, e sabia tirar dela o que precisava. “Quando prego, me persuado de que não sou eu quem fala e ensina as verdades divinas, senão de que é Deus mesmo quem fala por mim”.
São João estava ligado por laços da amizade mais calorosa com o Frei Jacopone de Todi (1230-1306), poeta, autor do pungente “Stabat Mater” e de várias melodias religiosas em língua italiana. Seus historiadores afirmam que Jacopone nasceu numa família nobre por volta de 1228 e 1230, teria estudado Direito na Universidade de Bolonha, exerceu a profissão de advogado, e se casou com uma nobre dama, que morreu prematuramente, o que afetou muito o jovem esposo. Renunciou então à sua profissão e ao mundo entrando para a Ordem Terceira Franciscana, entregando-se a uma vida de penitência retirada do mundo para participar das humilhações sofridas por Jesus Cristo em Sua Paixão. Tendo sido ridicularizado pelos que o cercavam e mesmo pelas crianças das ruas, ele recebeu este apelido pejorativo de Jacopone (no lugar de Jacopo). Ele é venerado como beato pelos franciscanos. São João do Monte Alverne administrou-lhe os últimos sacramentos em seu leito de morte.
Por sua vez, assegura-se que foi São João do Monte Alverne quem compôs o prefácio da Missa de São Francisco.
Estando em Cortona, a caminho de Assis, o santo sentiu a aproximação da morte. Retornou então ao Monte Alverne, onde entregou sua alma a Deus aos sessenta e três anos, no dia 9 de agosto de 1322.
Enterrado no próprio Monte Alverne, por causa dos muitos milagres realizados através de sua intercessão e de seu culto imemorial, este foi aprovado por Leão XIII em 1880. Sua festa é mantida na Ordem dos Frades Menores neste dia.