Nenhum apóstolo ou pregador marcou tanto o país que evangelizou como São Patrício, cuja festa comemoramos hoje, marcou a Irlanda. Onde houver, no mundo, uma colônia de irlandeses, neste dia o grande Santo é lembrado e festejado de modo todo especial, ainda em nossos dias, apesar da decadência religiosa e da paganização geral.
Por sua pregação a Irlanda, anteriormente lar da idolatria, tornou-se a Ilha dos Santos. Ele enriqueceu sua igreja metropolitana com relíquias de santos trazidas de Roma. As visões do alto, o dom da profecia, e os grandes milagres com que Deus o favoreceu, o fizeram brilhar como sucedeu a poucos santos.
“Eu, Patrício, miserável pecador e o último dos servidores de Jesus Cristo, tive por pai o diácono Calpurnius, filho do padre Potius.[É de se notar que, naquele tempo, como ocorre excepcionalmente também em nossos dias, viúvos ou homens casados que, de comum acordo com a esposa, renunciavam aos direitos do casamento, podiam receber a ordenação sacerdotal]. Eu nasci (em 377) em Bonaven Taberniae, numa vila que meu pai possuía”, diz o próprio santo no início de sua obra autobiográfica, Confissão.
Apesar de ter nascido em família religiosa, Patrício confessa que até os dezesseis anos, “não me tinha jamais preocupado seriamente com o serviço de Deus”. Além disso, “desde pequeno, tinha um verdadeiro horror ao estudo”.
Raptado por piratas e vendido como escravo, o adolescente, vendo-se só e abandonado, no sofrimento, na solidão e no desamparo, voltou-se então para Deus.
Nos caminhos da Providência, os seis anos de cativeiro de Patrício tornaram-se uma remota preparação para seu futuro apostolado. Pois ele adquiriu um perfeito conhecimento da língua céltica, na qual um dia iria anunciar as boas novas da Redenção. E como seu senhor, Milchu, era um grande sacerdote druída, ele familiarizou-se com todos os detalhes do Druidismo, de cuja escravidão estava destinado a libertar a raça irlandesa,
Findo esse período que foi para ele de purgação, um Anjo apareceu-lhe dizendo que suas preces e jejuns tinham sido aceitos por Deus, e que chegara a hora de ele voltar para casa. Que fugisse até o litoral onde um navio estava prestes para partir.
Patrício finalmente chegou à sua pátria… para ser novamente raptado e liberto dois meses depois por uma família cristã que o resgatou concedendo-lhe a liberdade.
Finalmente, tornado sacerdote, em 432 Patrício foi enviado pelo Papa ao campo de apostolado que a Providência de há muito lhe destinara: a Irlanda. Recebeu a sagração episcopal no continente, lá chegando pelo ano de 433.
Viajando depois pela Ilha, São Patrício, foi deixando seus discípulos para confirmar os que havia convertido à fé, e dirigiu-se para Slemish, onde o chefe pagão Dichu quis matá-lo com a espada. Mas ao desferir o golpe, seu braço ficou paralisado, só voltando ao normal quando ele, contrito, se converteu. Doou então ao apóstolo um estábulo, que se tornou o primeiro santuário erigido por São Patrício na Irlanda, junto ao qual fundou um mosteiro que se tornaria seu lugar de recolhimento na Ilha.
O Santo foi depois para Tara, onde uma assembléia anual dos chefes e guerreiros pagãos ia se reunir. Nela, os sacerdotes druídas, para mostrar seu poder, por meios diabólicos fizeram uma negra nuvem cobrir o firmamento. São Patrício desafiou-os então a fazê-la desaparecer. Por mais que fizessem, nada conseguiram. A uma prece do Santo, o sol tornou a aparecer. O chefe dos sacerdotes então, também pelo poder diabólico, como Simão Mago elevou-se ao ar, voando como um pássaro. Patrício rezou, e o infeliz estatelou-se no solo. Com isso converteram-se diversos chefes tribais e suas famílias. O filho de um deles, Benen ou Benígno, tornou-se companheiro inseparável do Santo, e o sucedeu na sé de Armagh.
O próprio Patrício não morreria mártir como ardentemente desejava. Faleceu em paz no dia 17 de março de 461, depois de trinta anos de frutuoso apostolado na “Ilha dos Santos”, deixando atrás de si inúmeros discípulos formados em sua escola.
Dele diz o Martirológio Romano Monástico: “No ano do Senhor de 461, o nascimento no céu de São Patrício. Após um período monástico em Lérins e depois em Auxerre, voltou para evangelizar a Irlanda. Lá fundou a igreja de Armagh, que se tornou o centro religioso da Ilha tão fértil em santidade. Sua memória é venerada em Downpatrick, no condado de Ulster”.