Um dos doze discípulos escolhidos por Cristo para difundir a verdadeira religião pelo mundo, é conhecido sobretudo por ter posto em dúvida a notícia da ressurreição de Jesus. Mas, depois de ter posto seus dedos nas chagas de Cristo ressurecto e ter lamentado sua incredulidade, recebeu a promessa de morrer como o Salvador.
Os evangelistas nos dizem muito pouco da vida dos doze homens providenciais por meio dos quais a Santa Religião foi pregada a quase todo o mundo civilizado da época. Pois, excetuando-se São Pedro e São João Evangelista, os Evangelhos nos dão poucos dados a respeito dos restantes. Por isso é preciso procurar em outras fontes dados sobre suas vidas.
São Tomé não é exceção. Nada sabemos de sua vida antes de sua escolha para o Colégio Apostólico, e muito pouco do que sucedeu depois.
Sabemos evidentemente, porque nos diz o Evangelho, que ele era um dos discípulos que acompanhavam o Salvador em sua vida pública (cf. Mt. 10, 2-4).
Sendo um dos Doze, foi enviado, ainda durante a vida pública do Salvador, em missão para pregar o reino de Deus. Jesus deu então aos Apóstolos poderes extraordinários, mesmo sobre a morte: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10, 8).
A primeira menção que as Sagradas Escrituras fazem de São Tomé, fora da lista dos Apóstolos, nos mostra que, se ele foi o Apóstolo da dúvida, também o foi da decisão. Pois quando Nosso Senhor, estando “para além do Jordão, no lugar onde João começara a batizar”, anunciou sua intenção de retornar à Judéia para ressuscitar a Lázaro – o que representava grande risco por causa do complô dos fariseus para O prender –, “Disse então Tomé, chamado Dídimo [gêmeo] aos condiscípulos: Vamos nós também para morrer com Ele” (Jo 11, 16), mostrando nisso sua determinada decisão de dar a vida por Cristo.
Outra vez São Tomé aparece no Evangelho fazendo uma pergunta a Nosso Senhor. O Divino Mestre, antes da Última Ceia, havia dito aos Apóstolos: “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou”. Disse-lhe então Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho? Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto” em minha Pessoa (Jo 14, 3-7).
Entretanto, o Santo é mais conhecido pela sua dúvida. Quando Nosso Divino Redentor, após a Ressurreição, apareceu aos seus discípulos, Tomé estava ausente. Voltando ele ao Cenáculo, “os outros discípulos disseram-lhe: Vimos o Senhor. Mas ele replicou-lhes: Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!” Quer dizer, duvidou mesmo! Continua São João: “Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco! Depois disse a Tomé: Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé. Respondeu-lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus!”, reconhecendo assim a dupla natureza, divina e humana, do Redentor.
A última referência a São Tomé na Escritura também é feita pelo Apóstolo Virgem, e se deu no Mar das Tiberíades, quando ocorreu a segunda pesca milagrosa. São Tomé era um dos apóstolos que estavam com São Pedro na ocasião.
Há muita controvérsia sobre o verdadeiro campo de apostolado desse Apóstolo. Entre os vários países citados como evangelizados por ele, segundo antiga tradição, que tem suporte em alguns santos como São Jerônimo, está a Índia, onde teria sido martirizado.
No Estado de Kerala, no sudoeste indiano, essa tradição não só é muito arraigada, mas existem católicos de dois ritos orientais, o Siro-Malabar e o Siro-Malankara, que clamam sua origem a esse Santo.
Segundo essa tradição, depois de ter fundado uma cristandade na costa do Malabar, confiou-a a um bispo e sacerdotes por ele ordenados, e passou para a Costa do Coromandel, do outro lado do sub-continente indiano, no atual Estado de Tamil Nadu, onde fez numerosas conversões, e foi martirizado na cidade de Meliapor, no ano de 72, atravessado por uma lança.
Ainda segundo conspícuos autores, em meados do século III, alguns mercadores estrangeiros levaram a maior parte das relíquias do Apóstolo para Edessa. Com efeito, afirmam eles que, no ano de 232, as relíquias do apóstolo Tomé foram trazidas de Meliapor, na Índia, para àquela cidade, ocasião em que seus Atos em siríaco foram escritos. Isso é também confirmado pelo Martirológio Romano, no dia 3 de julho: “Em Edessa, na Mesopotâmia, a Traslação de São Tomé Apóstolo desde a Índia, cujas relíquias foram depois levadas a Ortona-a-Mare, nos Abruzzos”, onde estão até hoje.
Teria esse apóstolo estado no Brasil, como consta de antiga tradição entre nossos índios, e que é citada em carta de 1549 pelo Pe. Manoel da Nóbrega? Com efeito, diz esse piedoso jesuíta: “Dizem eles [os índios] que São Tomé, a quem chamam de Zomé [ou Sumé], passou por aqui. Isto lhes ficou dito por seus antepassados. E que as suas pisadas estão assinaladas junto de um rio, as quais eu fui ver, por mais certeza da verdade, e vi com os próprios olhos quatro pisadas muito assinaladas com seus dedos. Dizem também que quando deixou estas pisadas, ia fugindo dos índios que o queriam flechar, mas as flechas retornavam contra eles. Dali ele foi para a Índia” – (cfr Aleteia em português).