Hoje, excepcionalmente, temos um santo do Antigo Testamento a considerar. Trata-se de Santo Amós, de quem o erudito Pe. Matos Soares, na Introdução aos Profetas Menores nos comentários que faz da Vulgata, afirma que: “Os críticos modernos consideram Amós, com razão, como o primeiro dos profetas escritores. O seu livro, por raros méritos de estilo e de substância, é realmente digno de abrir a inestimável literatura profética de Israel. Acrescentam valor às suas mensagens as humildes origens do profeta e sua vocação, na qual brilha tanto mais intensamente a força do seu espírito sobre-humano”.

Natural de Técua, aldeia situada a uns 8 km ao sul de Belém, Amós tirava seu sustento do pastoreio de rebanhos, e do cultivo de sicômoros, figueira nativa dos países tropicais do Oriente, cujos frutos constituíam o alimento da gente pobre do país.

Eram aqueles os tempos dos longos e prósperos reinados de Ozias, em Judá, e de Jeroboão II, em Israel, que davam àquelas nações poder e riqueza de que há muito tempo não gozavam. Daí que a própria religião auferia vantagens, pela abundância das vítimas imoladas nos altares, e pela pompa do rito. Mas ficavam prejudicadas a moral e a piedade sincera, os costumes pioravam, e os israelitas, deslumbrados pela prosperidade, caminhavam alegres e inconscientes para a ruína, porque, muitos entre eles, tiravam vantagem das multidões que iam aos festivais sagrados para gozos profanos e tumultuosos. Outros ainda se associavam livremente com os pagãos por motivos comerciais, chegando tão longe como a unir ao culto do verdadeiro Deus, às deidades pagãs. E não se davam conta de que, para sua infelicidade, crescia o poderio assírio.

Foi aí que o humilde pastor de Técua foi chamado por Deus a pregar o arrependimento, revelando aos culpados castigos iminentes: “O dia do Senhor será para vós um dia de trevas, e não de luz. É como se um homem fugisse de diante de um leão, e lhe saísse ao encontro um urso; ou como se, tendo entrado em casa e segurando-se com a mão à parede, o mordesse uma cobra … Eu aborreço e rejeito as vossas festas; não me é agradável o cheiro dos sacrifícios nos vossos ajuntamentos. Se vós me oferecerdes os vossos holocaustos e os vossos presentes, eu não os aceitarei … Apartai de mim o ruído dos vossos cânticos. … Os meus juízos se manifestarão (contra vós) como a água (que transborda), e a minha justiça como uma impetuosa torrente” (Am 5, 18-24).

Julgam os historiadores que Amós era ainda muito jovem quando recebeu o chamado irresistível de Deus para proclamar suas mensagens.

Percorrendo cidade por cidade, o profeta exerceu um curto ministério na região de Betel e da Samaria, sendo expulso de Israel. Voltou então à atividade anterior de pastor. Mais tarde tornou a pregar durante o reinado de Jeroboão II, entre os anos 783 e 743 antes de Cristo, e enfrentou corajosamente a oposição dos sacerdotes de Betel, o principal santuário do tempo.

Aí ocorreu o que diz o Martirológio Romano neste dia: “Em Técua, na Palestina, Santo Amós, profeta. O sacerdote Amasias espancou-o muitas vezes, e seu filho Ozias lhe perfurou as têmporas com uma ponta de ferro. Depois, levaram-no semi-vivo para sua terra natal. Ali morreu, e foi sepultado junto a seus pais”.

O livro de Amós nos apresenta, mais do que qualquer outro dos profetas, uma disposição clara e uma bela ordem das mensagens. Acima dos méritos literários, estão a elevação de pensamento, a doutrina moral e religiosa. Ele registra também que seu trabalho espiritual abriu uma esperança para o povo, que sentia o peso do Senhor sobre certos habitantes.

Depois de todas as ameaças feitas aos israelitas pela boca do profeta, vem a alviçareira promessa: “Tirarei do cativeiro o meu povo de Israel; reedificarão as cidades desertas, e as habitarão. Plantarão vinhas e lhes beberão o vinho; farão jardins e comer-lhes-ão o fruto. Plantá-los-ei no seu país, e não os tornarei mais a arrancar da terra que lhes dei, diz o Senhor teu Deus” (Am 9, 14-15).