O pontificado de São Calisto foi um dos mais importantes e gloriosos na história da Igreja no século III.

De acordo com o Catálogo Liberiano – lista cronológica dos Papas até o Papa Libério, contida no chamado cronógrafo de 354, por sua vez uma coleção de textos principalmente de cronógrafos (listas, crônicas, várias descrições) feitos em 354 – o pontificado do Papa Calisto começa em 218 e termina em 222.

Segundo um hagiógrafo, as primeiras notícias sobre a vida de Calisto podem ajudar a entender seu pontificado, caracterizado pela misericórdia para com os pecadores. Ele era originalmente escravo de um certo Carpoforo, cristão liberto da casa do imperador. Depois de alforriado, tornou-se diácono em Roma. Subindo São Zeferino ao trono papal, nomeou-o seu secretário, e confiou-lhe a administração dos bens da Igreja. Como arcedíago de Roma (vigário geral), desempenhou atividade benemérita para toda a comunidade e mesmo para os fiéis do mundo todo.

O papa Calisto desejava uma Igreja que fosse uma encarnação da misericórdia de Deus: sua Igreja era uma casa de misericórdia aberta aos pecadores, que poderia oferecer a todos a possibilidade de reconciliação após o pecado.

Encarregado de administrar os bens da Igreja e de recolher os corpos dos mártires, dirigiu a ampliação do cemitério entre a Via Ápia e a Ardeatina, que hoje é conhecido pelo nome de Catacumbas de São Calisto.

A influência doutrinal que teve foi também decisiva nos princípios do século III, quando começaram a surgir as lutas trinitárias e cristológicas, que Calisto combateu com vigor. Eleito Papa por volta do ano 217, interveio na disciplina do sacramento da penitência, e enfrentou o cisma de Hipólito.

O martírio de Calisto, Papa e santo, deve ser considerado seguro. O Depositio martyrum – lista dos mártires venerados em Roma, também pertencente ao já mencionado cronógrafo 354 do calígrafo Furio Dionisio Filocalo – indica sua memória em 14 de outubro e estabelece seu enterro na Via Aurélia, na terceira milha, portanto não no Cemitério Calistiano, mas na chamada catacumba de Calepódio.

O Martirólogio Romano edição italiana recorda o santo Papa Calisto na data neste dia: “São Calisto I, Papa, mártir: depois de um longo exílio na Sardenha, ele cuidou do cemitério na Via Apia conhecido sob seu nome, onde recolheu o vestígios de mártires para veneração futura da posteridade; o papa eleito promoveu a doutrina correta e reconciliou os lapsi (do latim, “caídos” ou cristãos apóstatas) com benevolência, finalmente coroando seu industrioso episcopado com um brilhante martírio. Neste dia, o depoimento de seu corpo é comemorado no cemitério de Calepódio, em Roma, na Via Aurelia”.

Já na edição em português, o mesmo Martirológio diz: “Em Roma, na Via Aurélia, o natalício do bem-aventurado Calisto I, papa e mártir que, por ordem do imperador Alexandre foi lançado no cárcere, onde tolerou por muito tempo o suplício da fome e espancamentos diários. Afinal, depois de o precipitarem da janela do prédio onde se achava detido, afogaram-no dentro de um poço. Assim mereceu os louros da vitória”.

Segundo a tradição, confirmada por essa versão do Martirológio, São Calisto coroou sua santa vida com o martírio, como bom Pastor que dá a vida por suas ovelhas, tendo sido aprisionado durante uma revolta popular contra os cristãos no ano 222, foi lançado num poço, onde morreu afogado.

Mais tarde deram-lhe sepultura honorífica no Cemitério de Calepódio, na Via Aurélia, junto do lugar do seu martírio. Assim se explica não ter sido sepultado na grande necrópole que ele próprio ampliara e onde foram enterrados São Zeferino e os Papas seguintes, na chamada precisamente “Cripta dos Papas”.

Por sua vez, o Martirológio Romano Monástico diz dele neste dia: “Em Roma, no ano da graça de 222, o martírio de São Calisto. Antigo escravo egresso das galés, depois de ter confessado sua fé, viu-se-lhe confiar, quando se tornou diácono, a administração temporal da Igreja. Eleito papa em 218, resistiu ao cisma de Hipólito e ao rigorismo de Tertuliano, amenizando as normas de admissão ao catecumenato e as de perdão aos apostas” que retornavam à Igreja.