O Martirológio Romano traz a seguinte entrada no dia 14 de janeiro: “Em Nola, na Campânia, o natalício [para o céu] de São Félix, presbítero. Depois de muitos tormentos, como escreve o bispo São Paulino, foi metido no cárcere pelos perseguidores. Jazia ali atado sobre conchas e cascalhos, quando um Anjo o soltou e levou para fora, durante a noite. Mais tarde, finda a perseguição, converteu muitos à fé de Cristo pelo exemplo de sua vida e sua doutrina. Distinguiu-se com milagres, e lá mesmo morreu na paz do Senhor”.

As notícias mais exatas sobre esse santo do século III as temos de São Paulino de Nola, seu grande devoto e promotor de seu culto. Ele escreveu sua vida em versos latinos, que São Beda, o Venerável, reduziu a prosa.

Sírio de origem, Félix era filho de Hérnias, militar de profissão que mudou-se com a família para Nola, perto de Nápoles, na Itália. Quando seu pai faleceu, Félix resolveu servir só a Deus Nosso Senhor. Repartiu então entre os pobres a maior parte de seus haveres, e entrou para o serviço da Igreja, sendo ordenado sacerdote.

Governava a Igreja de Nola um venerável ancião, Maximo, zeloso e santo, que teve que fazer face às cruéis perseguições de Décio (245-250) e Valeriano (256). Lembrando-se das palavras de Nosso Senhor, “quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra” (Mt 10, 73), o bispo santo resolveu ocultar-se em lugar mais seguro esperando melhores tempos. Deixou sua grei aos cuidados de Félix, que foi encarcerado num local tenebroso, cujo pavimento era formado por agudos pedaços de telhas.

Segundo a legenda, um Anjo o tirou do cárcere, como fizera com São Pedro. Entrando este no cárcere, disse ao confessor da fé: “Segue-me!”. Félix obedeceu prontamente e o Anjo, abrindo todas as portas da prisão, não só lhe deu a liberdade, mas conduziu-o para a montanha em que estava o bispo Máximo.

Os dois santos resolveram então voltar para Nola, mesmo sob o risco de serem presos e martirizados, para socorrer aos fiéis perseguidos. Diz a tradição que então a caridade multiplicou as forças de Félix, que tomou sobre os ombros o santo velho, e assim entraram secretamente na cidade.

Entretanto, conservaram-se escondidos em uma casa abandonada até que passasse a borrasca. Segundo ainda à tradição, quando eles entraram na casa, uma aranha rapidamente teceu enorme teia sobre a porta, de modo que os soldados imperiais pensassem que a casa estava abandonada há tempos. Quando amainou a tormenta, os dois santos começaram a exercer os santos mistérios e sua caridade.

Falecendo São Máximo, cuja festa se celebra amanhã, dia 15, Félix foi escolhido para seu lugar, mas recusou, apontando o nome de Quinto para a sé vacante.

Finalmente, depois de edificar a todos com vida exemplar, cheio de anos e de virtudes, São Félix faleceu pelo ano de 256. Ele foi tido por muitos como mártir, pelos muitos trabalhos sofridos pela fé. O grande papa São Damaso, que a ele tinha recorrido para recuperar a saúde, dedicou-lhe devotos versos.